ASSIMemMIM
...onde o tudo e o nada se fundem para além do seu significado...
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
SEM TI
E então de mim, assim, que ardi?
Que faço, se me desfaço e não caio num abraço porque sou cinza não tem céu para se lançar?
E então de mim, assim, que caí?
Que espero, se quero e não tenho um cálice que me recolha porque sou água e não se seguram gotas de chuva?
E então de mim, assim, que me parti?
Que digo, se tento e não tenho um alento que me cole os pedaços porque os estilhaços são impossíveis de voltar a ligar?
E então de mim,
Assim,
Sem ti?
Onde está o céu para me perder queimada do voo e o cálice para me acolher depois de chorada e a inteligência para me reconstruir?
Assim,
Sem ti,
Em mim…
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
JARDIM SEM LUAR
Anda-me
Anda ser e respirar e existir e sorrir, mas deixa-meDeixa-me
Deixa que o vento sopre e o luar ilumine os amantes, mas anda
segue-te
Segue os teus passos, a tua alma, os teus sentidos, mas não pares
Vai-te
Vai e deixa que eu chegue, que eu me chegue, que exista em mim
Encontra-te
Encontra alguém ou aprende a ser ninguém, mas perde-me
Perde-me
Deixa-me largada no caminho, porque eu sei que consigo
Consigo-me
Consigo ser-me, existir-me, sentir, crescer e florescer
Desde que tu
Árvore frondosa
De folha perene
Deixes passar a luz
E me deixes brilhar
Anda-te
Vai ser sombra
Num jardim sem luar….
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
SILÊNCIO
Silêncio
Porque só no silêncio cabem todas as lágrimas
-as minhas e as tuas-
E só no silêncio as almas ficam nuas
Oferecendo-se ao sol abrasador
Ou ao frio cortante das ruas
Passeando de mãos dadas
Como se fossem uma
- em vez de duas…
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
DEZ CENTÍMETROS
E aqui estamos. Eu e dez centímetros.
A certeza de que são realmente dez centímetros não a tenho. A certeza de sou realmente eu tão pouco. A noção da dimensão que dez centímetros podem assumir é quase tudo o que tenho. A noção da minha dimensão está reduzida a 10 centímetros. Não sei se me aproximam, se me separam. E se sim, não sei de quê.
Oca, assim devo estar. Até porque dentro de mim ressoam coisas, sons, toques, imagens, movem-se livre e freneticamente e por mais que tente não as compreendo. Não as sinto, não as vejo, não as oiço. Só as sei. E ao efeito que causam. Mais delas do que de mim, sei. Mas não lhes conheço a distância nem a linha temporal, não sei se são restos do que já vivi ou urgências do futuro. Não são consciências, são presenças.
Não as conheço nem reconheço.
Podia conhecê-las de novo, caso sejam memórias perdidas, mas falto-me. Porque estou ocupada e não me sobro nem um bocadinho em branco. Preenchida, como um caderno muito escrito e rabiscado, muito gasto e com páginas arrancadas onde se quisermos apontar um número de telefone temos que escrever por cima de outra coisa qualquer. E carregar na caneta para que se note. Não tenho linhas, não tenho folhas, não há caneta que me desenhe o futuro. Ou mão que a segure e risque com força. Furada que fique a página...
Dez centímetros e eu, imensos e no entanto apertados, desconfortáveis. Ambos.
Menos que um passo, menos que um palmo e ei-los: 10 centímetros ostensivamente no meu caminho. E eu. Se ao menos o tivesse, caminho… E eu na contemplação do espaço percebendo o quanto sobro. Não o quanto me sobro, nada se me oferece porque não tenho onde registar o que quer que seja. O quanto estou a mais, arrastando-me ao longo de tudo e deixando uma mancha amarelecida indistinta… O quanto estou pouco, nos sítios onde nem sequer fica marca da minha passagem, esbatida ou desencantada que seja.
Dez. Centímetros. Dez vezes um centímetro, cem vezes um milímetro. E eu.
Milimétrica aqui, aturdida de mim, do turbilhão que sei, perdida do conteúdo das folhas gastas, pouca de mim no caminho dos outros e… sem ti. A dez centímetros …
- Sim, está fresco aqui…
- …
- Nada, estava só a sentir a brisa e a ver os carros a passar lá em baixo.
- …
- Tens a mão quente… não esperava que viesses. Pensei que não…
- …
- Sim, vamos. Vou só fechar a janela…
Porque há sempre mais dez centímetros para escrever, mesmo que não seja numa página em branco…
A certeza de que são realmente dez centímetros não a tenho. A certeza de sou realmente eu tão pouco. A noção da dimensão que dez centímetros podem assumir é quase tudo o que tenho. A noção da minha dimensão está reduzida a 10 centímetros. Não sei se me aproximam, se me separam. E se sim, não sei de quê.
Oca, assim devo estar. Até porque dentro de mim ressoam coisas, sons, toques, imagens, movem-se livre e freneticamente e por mais que tente não as compreendo. Não as sinto, não as vejo, não as oiço. Só as sei. E ao efeito que causam. Mais delas do que de mim, sei. Mas não lhes conheço a distância nem a linha temporal, não sei se são restos do que já vivi ou urgências do futuro. Não são consciências, são presenças.
Não as conheço nem reconheço.
Podia conhecê-las de novo, caso sejam memórias perdidas, mas falto-me. Porque estou ocupada e não me sobro nem um bocadinho em branco. Preenchida, como um caderno muito escrito e rabiscado, muito gasto e com páginas arrancadas onde se quisermos apontar um número de telefone temos que escrever por cima de outra coisa qualquer. E carregar na caneta para que se note. Não tenho linhas, não tenho folhas, não há caneta que me desenhe o futuro. Ou mão que a segure e risque com força. Furada que fique a página...
Dez centímetros e eu, imensos e no entanto apertados, desconfortáveis. Ambos.
Menos que um passo, menos que um palmo e ei-los: 10 centímetros ostensivamente no meu caminho. E eu. Se ao menos o tivesse, caminho… E eu na contemplação do espaço percebendo o quanto sobro. Não o quanto me sobro, nada se me oferece porque não tenho onde registar o que quer que seja. O quanto estou a mais, arrastando-me ao longo de tudo e deixando uma mancha amarelecida indistinta… O quanto estou pouco, nos sítios onde nem sequer fica marca da minha passagem, esbatida ou desencantada que seja.
Dez. Centímetros. Dez vezes um centímetro, cem vezes um milímetro. E eu.
Milimétrica aqui, aturdida de mim, do turbilhão que sei, perdida do conteúdo das folhas gastas, pouca de mim no caminho dos outros e… sem ti. A dez centímetros …
- Sim, está fresco aqui…
- …
- Nada, estava só a sentir a brisa e a ver os carros a passar lá em baixo.
- …
- Tens a mão quente… não esperava que viesses. Pensei que não…
- …
- Sim, vamos. Vou só fechar a janela…
Porque há sempre mais dez centímetros para escrever, mesmo que não seja numa página em branco…
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
SER-TE
Sabes?
Sabes das chaves do carro, das chaves de
casa? Sabes dos caminhos e dos horários? Sabes dos outros?
E de ti? Sabes-te? Sabes onde guardas os
sorrisos e para onde atiras as lágrimas que não queres usar? Sabes se não
trazes os sorrisos apertados e se não estás na iminência de te afogares num mar
salgado que nem conheces?
Para além do espelho pendurado na parede e
dos espelhos nos olhares alheios, quem és, o que vês se te olhares? Se te
atreveres? Se entre os tempos para tudo encontrares tempo e se nesse tempo
fechares os olhos e os punhos, te cobrires de solidão e desceres a um nível
superior de realidade, a superior realidade do fundo de ti… encontras-te?
Se os telemóveis e os tablets e os
computadores e a televisão e toda a sacrossanta virtualidade que te prende o
cérebro por bits e bytes forem erradicados e te vires no teu silêncio, nu de
«gostos» e de «likes» e de visualizações… quem és? Ou – mais importante – quem
podes ser?
No carro, em casa, depois dos caminhos
percorridos, dos horários cumpridos, de todos os outros e à revelia da
tecnologia, no tempo que é só tempo que conseguiste descobrir: vês-te? Sentes
que existes e que vives para além da aparência de vida? Tens calos dos
caminhos, tens feridas na alma, tens buracos negros no coração, tens lágrimas
secas sob o olhar e sorrisos no rosto que teimam em não o deixar? E uma malha
intrincada de contradições e medos e angústias e gargalhadas e gritos e
sussurros que não entendes: tens?
Quanto de ti são pinceladas que vistas de
longe são incompreensíveis mas que daí – de dentro de ti nesse cantinho de onde
te olhas – são verdade e sentido e lógica?
Anda… Sai de mim, vai-te! Tens tanto para
ser…
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
SUPERLATIVO RELATIVO DE NÓS
Superlativo relativo em mim. Porque não há absolutos e porque te sou absolutamente, de
forma relativamente possível.
Porque somos livres e soltos e uma espécie de
prostitutos quando nos negamos. Quando nos comprometemos com outros que não um
com o outro. Quando existimos para além de nós porque sim, porque é assim.
Quando tentas ser para além de mim.
Porque na verdade nada sou para além de ti.
E ficamos aquém. Um passo atrás de tudo, no meio de um tanto aparente.
Porque
nada existe para além de nós em comunhão. Tudo o mais é ilusão e a prova
provada de que a realidade é multidimensional. De que em paralelo o tempo corre
a ritmos diferentes. Eternidades longe de nós, frações de segundo quando
existimos no mesmo espaço e no mesmo momento. O resto do tempo existimos como
na matemática, como um número indivisível a não ser por si próprio.
Superlativo relativo de ti.
Absolutos em nós, atados em nó.
Porque relativa é a pequenez de sentir apenas na
proximidade, porque nunca estás absolutamente longe.
Só relativamente
distante.
terça-feira, 26 de maio de 2015
SURPREENDE-ME
Surpreende-me, dizes-me...
Deixa
Deixa-te
Deixa
cair as letras pelas falésias e pelos abismos
Deixa-me
Deixa
o hífen voar, liberta-o do grilhão de separar, parecendo que une
Dizes-me:
surpreende-me
Digo-te:
prende me
Sem
hífen
Porque
pertence s me
Para
além da gramática
E
da grafia
Sem
surpresas...
segunda-feira, 25 de maio de 2015
CHAVE
Por
onde entrei?
Entrei
por essa porta. Qual?
Não
te sabes, não a sabes, não sabes! É uma porta que range nos gonzos. Por falta
de uso. Não te usas, não a usas, não usas…
Entrei-te
e voltei a sair só para avisar os outros de que me ia demorar.
És
tanto por detrás da porta que acho que te perdeste em ti mesmo, que constróis
sobre pormenores e te deixas pequeno no imenso espaço interior, rico de tudo,
cheio de tanto, ocupado de tão pouco.
A
porta fechei-a atrás de mim. Não a deixei aberta não te fosses fugir. E não te
quis arrumar porque só nós nos podemos escolher por dentro, separar o essencial
do acessório. Mas peguei-te na mão da emoção e fiz-te percorrer os labirintos,
os nós, os muros e as barreiras, as paredes de cristal e os abismos por detrás
delas.
Sentei-me
à porta disposta a ficar só mais um pouco, para ver se depois do passeio te
vias, te sentias… Curiosidade pura.
A
porta não mais a abri. Que estou tão bem aqui, vendo-te a alma desimpedida e os
sentimentos ganhando voz. Que estou tão confortável na tua descoberta de ti
mesmo, no deslumbramento de te gostares.
Não
saí pela tua porta. E acho que vou ficar. Não digas a ninguém, mas enfiei-me no
abismo do teu amor.
E deitei fora a chave….
quinta-feira, 21 de maio de 2015
CEREJA
Doce. Como a memória
de mel na minha boca, beijando a minha língua e escorrendo-me para o coração.
Fluido e denso, quente e meu… depois de ser teu.
Eras-me doce e
beijavas-me. Beijavas-me e eras meu. Olhava-te e era eu. Era eu no beijo, no
abraço em que nos desmanchávamos só para depois ser tão difícil voltar a ser.
Retornar à matemática do um mais um… Num abraço éramos um ao quadrado muito bem
enrolado. Não devia ser apartado.
Inteiro. Eras-me
inteiro e mordias-me. Mordias-me e saboreavas-me. Como uma cereja carnuda e
ostensivamente vermelha. Que se oferece como se o não fizesse… Que se deixa
como se não se deixasse. Que se morde em delícia e se saboreia em êxtase. De
que se engole o caroço, porque não se dispensa nada. Era inteira na tua
plenitude, mais que duas partes num todo, era um todo sem partes. Sem coração
partido…
Doce.
Na memória.
Do impossível.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
AINDA ASSIM
É pesada.
Ergo-a em mim o mais
alto que posso e o que posso é de menos porque pesa demais.
E quer ir mais alto e
ver mais longe e eu não a consigo. Não a consigo erguer, não a consigo
acompanhar. Não a consigo ser.
Não sei querer ir
assim nem ver assim porque me basto, porque me chego mesmo aqui onde estou.
Aqui mesmo. Aqui estou. Aqui sou eu, inteira dentro de mim. Contida mas segura
e completa dos meus amores, aflita das minhas inquietações, perdida nas minhas
dúvidas. Descoberta nas minhas certezas.
Sou.
O que sei ser.
Assim.
E escondo-a. Essa
expectativa, essa tua ansiedade de ser através de mim. De ser o que achas que é
mais, maior, melhor. E que para mim é de menos. Porque não sou eu e não seria
eu a não ser perante ti. Sou-me. Não te sou, apesar de te querer por vezes mais
que a mim própria.
Ainda assim….
Gosta de mim.
15-05-2015 _ M(im)
15-05-2015 _ M(im)
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