terça-feira, 26 de maio de 2015

SURPREENDE-ME


Surpreende-me, dizes-me...
 
Deixa

Deixa-te
Deixa cair as letras pelas falésias e pelos abismos
Deixa-me
Deixa o hífen voar, liberta-o do grilhão de separar, parecendo que une
Dizes-me: surpreende-me
Digo-te: prende me
Sem hífen
Porque pertence s me
Para além da gramática
E da grafia
Sem surpresas...

 

 

 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

CHAVE


Por onde entrei?
Entrei por essa porta.

Qual?

Não te sabes, não a sabes, não sabes! É uma porta que range nos gonzos. Por falta de uso. Não te usas, não a usas, não usas…
Entrei-te e voltei a sair só para avisar os outros de que me ia demorar.

És tanto por detrás da porta que acho que te perdeste em ti mesmo, que constróis sobre pormenores e te deixas pequeno no imenso espaço interior, rico de tudo, cheio de tanto, ocupado de tão pouco.
A porta fechei-a atrás de mim. Não a deixei aberta não te fosses fugir. E não te quis arrumar porque só nós nos podemos escolher por dentro, separar o essencial do acessório. Mas peguei-te na mão da emoção e fiz-te percorrer os labirintos, os nós, os muros e as barreiras, as paredes de cristal e os abismos por detrás delas.

Sentei-me à porta disposta a ficar só mais um pouco, para ver se depois do passeio te vias, te sentias… Curiosidade pura.
A porta não mais a abri. Que estou tão bem aqui, vendo-te a alma desimpedida e os sentimentos ganhando voz. Que estou tão confortável na tua descoberta de ti mesmo, no deslumbramento de te gostares.
Não saí pela tua porta. E acho que vou ficar. Não digas a ninguém, mas enfiei-me no abismo do teu amor.
 E deitei fora a chave….

 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

CEREJA


Doce. Como a memória de mel na minha boca, beijando a minha língua e escorrendo-me para o coração. Fluido e denso, quente e meu… depois de ser teu.
Eras-me doce e beijavas-me. Beijavas-me e eras meu. Olhava-te e era eu. Era eu no beijo, no abraço em que nos desmanchávamos só para depois ser tão difícil voltar a ser. Retornar à matemática do um mais um… Num abraço éramos um ao quadrado muito bem enrolado. Não devia ser apartado.
Inteiro. Eras-me inteiro e mordias-me. Mordias-me e saboreavas-me. Como uma cereja carnuda e ostensivamente vermelha. Que se oferece como se o não fizesse… Que se deixa como se não se deixasse. Que se morde em delícia e se saboreia em êxtase. De que se engole o caroço, porque não se dispensa nada. Era inteira na tua plenitude, mais que duas partes num todo, era um todo sem partes. Sem coração partido…
Doce.
Na memória.
Do impossível.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

AINDA ASSIM


É pesada.

Ergo-a em mim o mais alto que posso e o que posso é de menos porque pesa demais.

E quer ir mais alto e ver mais longe e eu não a consigo. Não a consigo erguer, não a consigo acompanhar. Não a consigo ser.

Não sei querer ir assim nem ver assim porque me basto, porque me chego mesmo aqui onde estou. Aqui mesmo. Aqui estou. Aqui sou eu, inteira dentro de mim. Contida mas segura e completa dos meus amores, aflita das minhas inquietações, perdida nas minhas dúvidas. Descoberta nas minhas certezas.

Sou.

O que sei ser.

Assim.

E escondo-a. Essa expectativa, essa tua ansiedade de ser através de mim. De ser o que achas que é mais, maior, melhor. E que para mim é de menos. Porque não sou eu e não seria eu a não ser perante ti. Sou-me. Não te sou, apesar de te querer por vezes mais que a mim própria.

Ainda assim….

Gosta de mim.


15-05-2015 _ M(im)