quinta-feira, 21 de maio de 2015

CEREJA


Doce. Como a memória de mel na minha boca, beijando a minha língua e escorrendo-me para o coração. Fluido e denso, quente e meu… depois de ser teu.
Eras-me doce e beijavas-me. Beijavas-me e eras meu. Olhava-te e era eu. Era eu no beijo, no abraço em que nos desmanchávamos só para depois ser tão difícil voltar a ser. Retornar à matemática do um mais um… Num abraço éramos um ao quadrado muito bem enrolado. Não devia ser apartado.
Inteiro. Eras-me inteiro e mordias-me. Mordias-me e saboreavas-me. Como uma cereja carnuda e ostensivamente vermelha. Que se oferece como se o não fizesse… Que se deixa como se não se deixasse. Que se morde em delícia e se saboreia em êxtase. De que se engole o caroço, porque não se dispensa nada. Era inteira na tua plenitude, mais que duas partes num todo, era um todo sem partes. Sem coração partido…
Doce.
Na memória.
Do impossível.

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