E aqui estamos. Eu e dez centímetros.
A certeza de que são realmente dez centímetros não a tenho. A certeza de sou realmente eu tão pouco. A noção da dimensão que dez centímetros podem assumir é quase tudo o que tenho. A noção da minha dimensão está reduzida a 10 centímetros. Não sei se me aproximam, se me separam. E se sim, não sei de quê.
Oca, assim devo estar. Até porque dentro de mim ressoam coisas, sons, toques, imagens, movem-se livre e freneticamente e por mais que tente não as compreendo. Não as sinto, não as vejo, não as oiço. Só as sei. E ao efeito que causam. Mais delas do que de mim, sei. Mas não lhes conheço a distância nem a linha temporal, não sei se são restos do que já vivi ou urgências do futuro. Não são consciências, são presenças.
Não as conheço nem reconheço.
Podia conhecê-las de novo, caso sejam memórias perdidas, mas falto-me. Porque estou ocupada e não me sobro nem um bocadinho em branco. Preenchida, como um caderno muito escrito e rabiscado, muito gasto e com páginas arrancadas onde se quisermos apontar um número de telefone temos que escrever por cima de outra coisa qualquer. E carregar na caneta para que se note. Não tenho linhas, não tenho folhas, não há caneta que me desenhe o futuro. Ou mão que a segure e risque com força. Furada que fique a página...
Dez centímetros e eu, imensos e no entanto apertados, desconfortáveis. Ambos.
Menos que um passo, menos que um palmo e ei-los: 10 centímetros ostensivamente no meu caminho. E eu. Se ao menos o tivesse, caminho… E eu na contemplação do espaço percebendo o quanto sobro. Não o quanto me sobro, nada se me oferece porque não tenho onde registar o que quer que seja. O quanto estou a mais, arrastando-me ao longo de tudo e deixando uma mancha amarelecida indistinta… O quanto estou pouco, nos sítios onde nem sequer fica marca da minha passagem, esbatida ou desencantada que seja.
Dez. Centímetros. Dez vezes um centímetro, cem vezes um milímetro. E eu.
Milimétrica aqui, aturdida de mim, do turbilhão que sei, perdida do conteúdo das folhas gastas, pouca de mim no caminho dos outros e… sem ti. A dez centímetros …
- Sim, está fresco aqui…
- …
- Nada, estava só a sentir a brisa e a ver os carros a passar lá em baixo.
- …
- Tens a mão quente… não esperava que viesses. Pensei que não…
- …
- Sim, vamos. Vou só fechar a janela…
Porque há sempre mais dez centímetros para escrever, mesmo que não seja numa página em branco…
A certeza de que são realmente dez centímetros não a tenho. A certeza de sou realmente eu tão pouco. A noção da dimensão que dez centímetros podem assumir é quase tudo o que tenho. A noção da minha dimensão está reduzida a 10 centímetros. Não sei se me aproximam, se me separam. E se sim, não sei de quê.
Oca, assim devo estar. Até porque dentro de mim ressoam coisas, sons, toques, imagens, movem-se livre e freneticamente e por mais que tente não as compreendo. Não as sinto, não as vejo, não as oiço. Só as sei. E ao efeito que causam. Mais delas do que de mim, sei. Mas não lhes conheço a distância nem a linha temporal, não sei se são restos do que já vivi ou urgências do futuro. Não são consciências, são presenças.
Não as conheço nem reconheço.
Podia conhecê-las de novo, caso sejam memórias perdidas, mas falto-me. Porque estou ocupada e não me sobro nem um bocadinho em branco. Preenchida, como um caderno muito escrito e rabiscado, muito gasto e com páginas arrancadas onde se quisermos apontar um número de telefone temos que escrever por cima de outra coisa qualquer. E carregar na caneta para que se note. Não tenho linhas, não tenho folhas, não há caneta que me desenhe o futuro. Ou mão que a segure e risque com força. Furada que fique a página...
Dez centímetros e eu, imensos e no entanto apertados, desconfortáveis. Ambos.
Menos que um passo, menos que um palmo e ei-los: 10 centímetros ostensivamente no meu caminho. E eu. Se ao menos o tivesse, caminho… E eu na contemplação do espaço percebendo o quanto sobro. Não o quanto me sobro, nada se me oferece porque não tenho onde registar o que quer que seja. O quanto estou a mais, arrastando-me ao longo de tudo e deixando uma mancha amarelecida indistinta… O quanto estou pouco, nos sítios onde nem sequer fica marca da minha passagem, esbatida ou desencantada que seja.
Dez. Centímetros. Dez vezes um centímetro, cem vezes um milímetro. E eu.
Milimétrica aqui, aturdida de mim, do turbilhão que sei, perdida do conteúdo das folhas gastas, pouca de mim no caminho dos outros e… sem ti. A dez centímetros …
- Sim, está fresco aqui…
- …
- Nada, estava só a sentir a brisa e a ver os carros a passar lá em baixo.
- …
- Tens a mão quente… não esperava que viesses. Pensei que não…
- …
- Sim, vamos. Vou só fechar a janela…
Porque há sempre mais dez centímetros para escrever, mesmo que não seja numa página em branco…
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