sexta-feira, 9 de outubro de 2015

SER-TE


Sabes?

Sabes das chaves do carro, das chaves de casa? Sabes dos caminhos e dos horários? Sabes dos outros?

E de ti? Sabes-te? Sabes onde guardas os sorrisos e para onde atiras as lágrimas que não queres usar? Sabes se não trazes os sorrisos apertados e se não estás na iminência de te afogares num mar salgado que nem conheces?

Para além do espelho pendurado na parede e dos espelhos nos olhares alheios, quem és, o que vês se te olhares? Se te atreveres? Se entre os tempos para tudo encontrares tempo e se nesse tempo fechares os olhos e os punhos, te cobrires de solidão e desceres a um nível superior de realidade, a superior realidade do fundo de ti… encontras-te?

Se os telemóveis e os tablets e os computadores e a televisão e toda a sacrossanta virtualidade que te prende o cérebro por bits e bytes forem erradicados e te vires no teu silêncio, nu de «gostos» e de «likes» e de visualizações… quem és? Ou – mais importante – quem podes ser?

No carro, em casa, depois dos caminhos percorridos, dos horários cumpridos, de todos os outros e à revelia da tecnologia, no tempo que é só tempo que conseguiste descobrir: vês-te? Sentes que existes e que vives para além da aparência de vida? Tens calos dos caminhos, tens feridas na alma, tens buracos negros no coração, tens lágrimas secas sob o olhar e sorrisos no rosto que teimam em não o deixar? E uma malha intrincada de contradições e medos e angústias e gargalhadas e gritos e sussurros que não entendes: tens?

Quanto de ti são pinceladas que vistas de longe são incompreensíveis mas que daí – de dentro de ti nesse cantinho de onde te olhas – são verdade e sentido e lógica?

Anda… Sai de mim, vai-te! Tens tanto para ser…

 

1 comentário:

  1. Mais um excelente texto.
    Com tantas perguntas... e quase todas elas tão inquietantes...
    Minha querida amiga, desejo-lhe uma óptima semana.
    Abraço.

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